18 anos depois do Madureira decidir o Estadual de 2006 com o Botafogo, o Nova Iguaçu rompe a barreira dos quatro grandes e enfrentará o Flamengo na luta para conquistar o inédito título. Além de ter sido mais organizado que o Vasco nos 180 minutos da semifinal, o time da Baixada Fluminense colheu os frutos da coragem. Jamais deixou de ser agressivo com a bola neste campeonato.
A nova decepção que o Cruzmaltino gerou ao seu torcedor tem a marca de uma equipe que em nenhum momento conseguiu passar para o gramado a superioridade técnica que tem no papel. Nem mesmo o Maracanã lotado fez o Gigante da Colina superar o calor e as limitações coletivas para confirmar o favoritismo.
Escalações
Carlos Vittor repetiu a escalação do jogo da última semana. Um 4-2-3-1 com Bill, Yago e Xandinho mais próximos de Carlinhos. Já Ramon Diaz confirmou a mexidas de esquema e de peças. Medel atuou como o volante central de um 4-3-3. Praxedes ganhou chance no meio. Robert Rojas entrou na lateral-direita e Adson voltou a ser titular. Paulo Henrique, Zé Gabriel e Clayton começaram no banco.
O jogo
Com uma sensação térmica na casa dos 60º no gramado do Maracanã, não havia como Vasco e Nova Iguaçu entregarem um jogo intenso e dinâmico. Não que a 1ª etapa tenha sido ruim, mas foi um confronto sem ritmo. Além do calor, as necessárias paradas para hidratação, faltas e atendimentos médicos, não deixaram a partida engrenar de fato.
O Vasco esteve mais perto do gol. Fez o goleiro Fabricio trabalhar em finalizações de Vegetti e Galdamés. Mas não teve o volume esperado por sua torcida. Não houve regularidade na criação de chances. O calor atrapalhou as duas equipes nisso, é verdade, mas Praxedes e Galdamés tiveram atuações muito discretas no sentido da articulação dentro da intermediária ofensiva.
Payet circulava para o meio a medida que Lucas Piton avançava, seja com a bola dominada ou não. Pela direita essa sintonia não acontecia tantas vezes, em função da natural menor aptidão ofensiva de Rojas. O camisa 10 somou alguns bons passes, deu um chute perigoso por cima, mas acabou prejudicado pelo funcionamento coletivo abaixo da ideal.
Assim como o Vasco, o Nova Iguaçu não tinha uma abordagem de marcação tão agressiva ao se posicionar no próprio campo. As duas equipes evitaram marcar muito na frente. Estratégia apropriada para a condição climática do domingo. Até por isso, quem mexesse a bola mais rápido e encontrasse as combinações, teria chances de criar.
O Laranja da Baixada pôs em prática a ideologia da maioria dos jogos que fez neste Estadual. Com a bola, tentou avançar com passes curtos, liberdade aos laterais, pontas saindo dos flancos para o centro, aproximações com Yago, e o trabalho de pivô de Carlinhos. O Cruzmaltino esteve mais bem posicionado defensivamente do que em partidas recentes. Deu menos espaços na entrada da área.
Medel tomava conta do setor. Galdames e Praxedes o auxiliavam. Por mais que a equipe da Baixada Fluminense tenha encaixado boas trocas de passe, faltou um pouco mais de agressividade para gerar o volume que teve na última semana. A melhor jogada do time no 1º tempo veio em contragolpe puxado por Yago. Sergio Raphael e Gabriel Pinheiro protegeram muito bem a área.
O início da 2ª etapa, com duas finalizações em quatro minutos e boas tramas pelo lado esquerdo, acabou iludindo o torcedor vascaíno. Logo depois o time retomou a incapacidade de realizar uma pressão forte. Trocava passes num ritmo longe do ideal, errava ao se aproximar da área. As conexões eram inexistentes.
O Nova Iguaçu seguia com suas estocadas esporádicas, mas era perigoso. Parecia mais preocupado defensivamente. Soltava menos os laterais no campo de ataque, e começou a utilizar mais passes longos para Carlinhos controlar a bola, e encontrar as aproximações de Bill, Yago e Xandinho na sequência.
Ramon Diaz já havia feito três mexidas na metade da 2ª etapa. Payet passou a jogar como meia-central com a entrada de David pela esquerda. Galdamés saiu. Sforza substituiu o vaiado Praxedes. Paulo Henrique entrou no lugar de Rojas pela direita. O efeito prático não foi possível de ser percebido.
Isso porque o experiente goleiro Fabricio mostrou-se decisivo para o resultado do jogo em uma sequência determinante de lances. Primeiro defendeu uma linda cabeçada de Sforza em bola alçada por Payet na área. Depois iniciou o contragolpe que terminou em bola na rede de Bill. A jogada ainda contou com participações luxuosas de Yago e Carlinhos.
O maior sinal da incapacidade de superar o Nova Iguaçu foi dado pelo Vasco após sofrer o gol de Bill. Mesmo com mais um centroavante - Clayton - em campo, não se viu uma pressão feita na base do ''abafa'', como foi na busca pelo empate no primeiro jogo das semifinais. Energia e confiança abaixo da crítica, ingredientes que embalaram os melancólicos últimos minutos.
Fonte: https://ge.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-coutinho/post/2024/03/17/passividade-do-vasco-marca-tarde-historica-para-o-nova-iguacu.ghtml